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quinta-feira, maio 13, 2010

A estupidez do anti-clericalismo

Acho que foi um cineasta francês que disse que a estupidez era muito mais interessante que a inteligência, pois a estupidez não tem limites e a inteligência é finita.
Apesar de conhecer a falta de limites da estupidez, a malta realmente estúpida continua a fazer-me urticária.
Bento XVI veio a Portugal.
Não sou católico, não vou à missa, só frequento igrejas em dias de casamentos de amigos ou de baptizados dos filhos.
Aborrece-me um bocado a “overdose” de programas sobre o Papa e toda a parafernália que o acompanha – tal como me aborrece o excesso de programas sobre futebol ou o excesso de “talk shows” que a nossa TV actualmente apresenta - embora compreenda que vivo num país maioritariamente católico e este é um dos preços a pagar por isso.
Mas atacar o Papa porque é Papa e apoucar os católicos porque se entusiasmam com a vinda do Papa a Portugal é tão barbaramente imbecil, tão infinitamente idiota, que realmente me lembro logo da noção da infinitude da estupidez.
Se no séc. XIX e até meados do séc. XX se justificava o anti-clericalismo – porque a “padralhada” realmente estava maioritariamente ligada ao piorzinho que as sociedades de então tinham – actualmente esse anti-clericalismo já não faz qualquer sentido.
Quando não há bandeiras próprias, arranja-se maneira de criar movimento em reacção contra isto ou contra aquilo: é fácil ser anti alguma coisa mas o difícil é ser pró qualquer coisa e agir consequentemente em prol dessa coisa.
Sinto um profundo desprezo por gente que confunde estas realidades comezinhas, confundindo cultura com religião e opinião com agressão – são, na realidade, infinitamente estúpidos.
Deus me perdoe..., digo eu, que graças a Deus sou ateu.

5 comentários:

António Conceição disse...

Concordo com quase tudo. Só acho que falta à verdade, quando escreve: "...não vou à missa, só frequento igrejas em dias de casamentos de amigos ou de baptizados dos filhos". Tenho a certeza que também frequenta igrejas em dias de funerais de parentes e amigos.

100anos disse...

Tem toda a razão, caro Funes, tinha-me esquecido dos funerais.

Blimunda disse...

Julgo que a maioria das pessoas sente forte necessidade de eleger causas para os males pessoais e ódios de estimação. Depois há que alimentá-los para que não definhem e as abandone a elas próprias. Há quem eleja um presidente, outros um primeiro–ministro, outros o Papa. Não alinho nessas batalhas e fujo a sete pés do campo onde ela decorre. Temo não ter estômago para suportar o cheiro sanguinário que por lá se sente.

Carlos Pires disse...

É verdade o que disse sobre o anti-clericalismo. Mas também sucedeu confundirem-se críticas pertinentes com anti-clericalismo. Falar dos milhões que o país perdeu com as tolerâncias de ponto, discutir o que cabe e não cabe a um Estado laico... Tudo isso pode ser feito sem anti-clericalismo. E algumas pessoas fizeram-no e mesmo assim foram acusadas de anti-clericalismo.
Ou seja: o simplismo e a estupidez vieram de várias direcções.

100anos disse...

Obrigado pelo comentário.
Sim, aquilo que diz é verdade, mas as tentativas “sérias” de se debater a questão ficaram soterradas debaixo das toneladas de anti-clericalismo primário de muita gente.
Gente que é capaz de aceitar tudo que venha de gays e lésbicas, mas que é incapaz de ter uma atitude minimamente aberta para qualquer ideia que não venha do “clube” a que pertencem.
Claro que também há católicos primários e hiper-intolerantes e por isso não posso deixar de concordar consigo – na verdade a estupidez vem de várias direcções.
O que mais me incomoda é a facilidade com que os imbecis de um lado e de outro aceitam as maiores enormidades (se forem oriundas do seu clube) e combatem ideias razoáveis e credíveis apenas porque vieram de outro clube.
Bem sei que é um sentimento negativo, mas não consigo deixar de sentir um soberano desprezo pela superficialidade e pelo primarismo de uns e de outros.

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