Blog que trata dos livros, da leitura, da música e da reflexão política e social.


sexta-feira, abril 13, 2007

Contos Estelares - XV

Encontros Imediatos

“Sou Manolo, astrónomo e cientista estagiário, estou a contactar-vos à revelia dos meus chefes, sei que vocês estão a dirigir-se para cá numa nave espacial de extraordinária potência, a uma velocidade próxima de 20 vezes a velocidade da luz e pelos vossos sinais parecem-me humanos ou pelo menos humanóides; cuidado com o 10 planeta do nosso sistema, está armadilhado contra os Cylons, nossos inimigos tradicionais, andróides hostis e tecnologicamente muito avançados; o planeta emite um feixe tractor convidando as naves a poisar – esse feixe tractor é uma armadilha; pelas minhas contas, se vocês mantiverem a velocidade a que estão, entrarão no nosso sistema dentro de uns 7 meses; não tentem contactar comigo por agora; mas estejam descansados, pois muito antes de estarem bem próximos serão oficialmente contactados pelos mais altos responsáveis do planeta”.
De tempos a tempos o computador repetia esta litania, o que significava que Manolo não estava certo de ter sido entendido e reenviava sempre a mesma mensagem.
Os cinco astronautas decidiram enviar-lhe também em código binário uma curta mensagem: “Somos humanos, do planeta Terra, o 3º planeta do sistema solar que está a implodir no sector estelar Z-33-M; pedimos ajuda; representamos alguns milhares de humanos sobreviventes e procuramos um planeta habitável; solicitamos contacto com as vossas autoridades”.
“Cuidado com o discurso”, advertiu Cem, “não podemos dar a impressão de que temos um grande poder tecnológico, pois isso poderá atemorizar os homens de Andrómeda”.
“Eles não vão compreender”, disse Cleópatra, “nós dizemos que viemos de um sistema que está a implodir e eles não têm forma de o confirmar, pois para os telescópios deles o nosso sistema está ainda impecável; como estamos há muito a viajar a 20 vezes a velocidade da luz chegámos muito mais depressa do que a visão da implosão”.
“Calma, que ainda vão demorar uns meses até lá chegarmos, apesar da velocidade”, ponderou Nina Augusta; “talvez o melhor seja prepararmos consistentemente as nossas explicações”.
Os outros concordaram.
Cada um procurou fazer as simulações de computador mais perfeitas possível sobre a implosão do sistema solar.
Cem fez tudo quanto lhe pareceu necessário; esgotado o trabalho, pegou na viola e começou a tocar, na sala de convívio; passado um bom bocado entrou Neves e sentou-se calmamente à escuta; depois de mais um pedaço apareceram Cleópatra e Funes.
Finalmente Nina Augusta entrou.
Estava a soar um prelúdio de Badenpowell em viola clássica, com um ritmo algo endiabrado; era um prelúdio grande, com quase 10 minutos de som.
Quando acabou de o tocar Cem olhou para as suas mãos e disse, satisfeito, que não compreendia como conseguia tocá-lo: “na Terra nunca tive dedos para ele e fartei-me de o estudar, sem resultado; mas o que é isto ? o espaço exterior ajuda a tocar melhor ? há-de haver uma explicação, caraças !”
“Estou a trabalhar nessa hipótese”, declarou Funes.
De súbito uma nota aguda do computador central chamou a atenção de todos; uma mensagem diferente estava a chegar de Andrómeda: “foram vocês que cantaram essa melodia ?”
Não cantámos, ela foi tocada numa viola, que é um instrumento musical, explicaram os astronautas.
“Para nós, essa melodia foi uma grande novidade; os nossos computadores traduziram-na como um forma superior de arte a que chamamos música e que é uma linguagem universal de amor e de paz – ainda bem que a enviaram”, transmitiu Manolo.
A mensagem, porém, foi perdendo definição até desaparecer no éter, substituída por um ruído de fundo estranho.
O Computador central emitiu um sinal de alrme: pouco segundos depois os cinco astronautas compreenderam a sua razão.
No visor central da nave pairavam as formas de seis naves de guerra em atitude bélica que se dirigiam para a Poseidon a toda a velocidade.
Antes de perder o pio, Manolo tinha ainda conseguido enviar um aviso: “Atenção ! Cylons !”
Os andróides Cylons tinham descoberto a Poseidon.

(continua)

1 comentário:

Neves de ontem disse...

Tenho medo!
O que vai ser de mim!
Não queria morir tão jovem!
Socorro!

eXTReMe Tracker