Blog que trata dos livros, da leitura, da música e da reflexão política e social.


segunda-feira, dezembro 29, 2008

Gatunos explorados

Acho indecente !
Noticiaram os jornais que os “amigos do alheio” andaram especialmente activos nas noites de consoada e de Natal, assaltando casas onde não se encontravam os seus proprietários.
Não acho indecentes os assaltos em si: dentro do espírito das actuais leis penais pelas quais o nosso pundoroso governo se tem tão nobremente batido, não posso deixar de considerar que os pobres assaltantes são vítimas de uma sociedade que nunca lhes deu oportunidades, nasceram num bairro de lata, o pai foi preso por ter “feito” umas poucas de carteiras, a mãe, coitada, é melhor nem falar, a bem dizer nós é que somos os culpados dos crimes dos rapazes...
O que eu acho realmente indecente é que os moços sejam obrigados a trabalhar em dias feriados e santos de guarda, sem direito a descanso e estando em dúvida mesmo o pagamento de horas “extraordinárias”.

E acho mal também a polícia andar a persegui-los, enquanto os “colegas” da banca e da alta finança roubam milhões e são presença assídua nas festas da beautiful people, sem ninguém os incomodar.
Ou há moralidade ou comem todos !

Gatunos de todo o mundo, uni-vos !

Isto é ou não um Estado de Direito ????
Roubar, sim, claro, mas com remuneração e condições de trabalho dignas !

Come With Me



Anda comigo, irmão.
Vamos descobrir até onde vão os nossos limites.
Ao som da excelente música de Graham Nash.
Clique para ouvir.

domingo, dezembro 28, 2008

A galinha e o equívoco

Gosto de cozinhar, acho que numa encarnação anterior devo ter sido cozinheiro.

A minha história é clássica.

Durante mais de 40 anos a culinária foi para mim um mistério.

Um dia deu-me para perguntar à Senhora minha Mãe como é que se fazia a bela feijoada que se comia em casa de meus pais.

Ela olhou-me algo duvidosa e começou a explicar, mas eu pedi-lhe uma curtíssima dilação para pegar numa caneta e num papel – e comecei a escrever as suas sábias palavras.

Nesse dia logo que cheguei a casa sentei-me ao computador e registei religiosamente as indicações da minha progenitora.

Assim nasceu a minha primeira receita informatizada.

O resto (não é para me gabar) é uma história de sucesso: comecei a confeccionar pratos e mais pratos e alarguei o meu reportório culinário ao caril, ao arroz malandro, ao arroz de marisco, à sopa de legumes, ao peixe assado no forno, ao frango assado no forno, ao polvo cozido e em vinagrete, etc..

Hoje sou um cozinheiro cheio de pergaminhos – li há uns tempos numa revista qualquer que os homens que sabem cozinhar e usam a cozinha para cativar pessoas são hoje qualificados de “gastrosexuais”.

Pois bem, assumo: sou um gastrosexual !

No exercício de tais funções, dirigi-me aqui há dias a um supermercado onde fiz diversas compras, entre as quais... uma galinha, pensando que era um frango.

Hoje assei o “frango/galinha” no forno.

Desastre !

Catástrofe !

Miséria !

A estúpida da galinha estava dura como cornos e era preciso ter dentes serrilhados para a conseguir comer.

Ficou para a gatinha – a minha fiel Tareca adora algumas das minhas facetas culinárias, exactamente aquelas que para mim são menos compensadoras – tem dentes serrilhados...

A minha Mulher nem tocou na galinha e eu não a posso censurar por isso.

O sacrista do puto claro que preferiu pizza.

Ó vã glória efémera, ó vã cobiça !

Apesar de tantos e tais pergaminhos, gastrosexual embora, sou um candidato ao desemprego !

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Mensagens de Natal - lógica da batata

Recebi centenas de mensagens de e-mail e umas dezenas largas de SMSs a desejarem-me um feliz Natal e um próspero Ano Novo.

Com tanta gente a fazer força, desconfio que nem o Pai Natal nem mesmo Deus Nosso Senhor terão a distinta lata de fazer a desfeita a tão acrisolados votos.
Razões de sobra, portanto, para acreditar que vou ter um feliz Natal e um próspero Ano Novo.
Dir-me-ão que isto é a lógica da batata - mas se ela impera urbi et orbi, porque é que a minha batata há-de ser menos que as outras ?

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Solstício de Inverno


O Natal é a festa do solstício de Inverno, que se faz desde muito antes do nascimento de Cristo.
Para aqueles que, como eu, tentam viver essa festa pagã com o espírito dos agnósticos, a questão fundamental é conviver um pouco com a família e papar as iguarias gastronómicas adequadas à quadra.
Sem falar nas prendas, que frequentemente são uma seca mas que volta e meia surpreendem pela excelência.

Saudemos o novo ano que está aí a rebentar.

domingo, dezembro 14, 2008

Relendo Steven Saylor

É um gosto reler este autor, que se está a tornar num clássico.
As descrições cheias de imaginação que faz da Roma clássica, as análises dos personagens, tudo repassado de uma sólida cultura clássica, levam a que se leia Steven Saylor com uma atenção especial.
Volta e meia faz uma alusão vaga que pressupõe que o leitor também tem alguma cultura – por exemplo, uma referência quase irrelevante de uma certa Clódia ao “tempo das Sabinas” pode levar à conclusão sobre o tipo de família patrícia a que pertence (in casu, é descendente do ramo dos Cláudios que por razões de conveniência política fizeram o nome reverter para Clódio – só a história destes Cláudios dava para um volume interessante e prenhe de detalhes).
Saylor descreve-nos uma sociedade em que os muito ricos convivem com os remediados e todos com a pobreza extrema e principalmente com o fenómeno da escravatura.
No “Lance de Vénus” descreve-se um panorama em que os escravos estavam muito baratos e eram tratados como coisas mais ou menos rentáveis: se um escravo ficasse doente mais valia deixá-lo morrer e comprar outro...
Se um escravo por mero acidente presenciasse uma cena incómoda para o dono, este poderia livrar-se dele e vendê-lo para as minas – ser escravo numa mina era o penúltimo degrau da escravatura, onde a morte prematura e rápida era uma quase certeza – o último degrau era, decerto já o adivinhou, ser escravo nas galés.
Saylor desenvolve um enredo em que uma capitosa Clódia, sensual, provocadora e... rica, resolve empregar os seus dotes de deusa erótica no bom do Gordiano, detective de meia idade, casado e pai de filhos, que fica derreado cada vez que a outra o envolve no seu perfume.
Convenhamos que não devia ser brinquedo enfrentar os ataques erotico-punitivos da bela patrícia e ao mesmo tempo desvendar o crime em que ela parece estar envolvida.

Grécia

Polícia de Atenas
vê-se grega

para controlar as multidões
de jovens em fúria.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Mania das grandezas


Porquê a mania das grandezas ?


All we are is dust in the wind...

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Ódios de estimação

Nunca gostei de Frank Sinatra.
Não gostei da sua música, nunca gostei da sua imagem, detesto os postulados implícitos do seu discurso marialva de “self made man” e sinto pele de galinha pela tradução política dos valores que parece defender (que coloco na ultra-extrema-hiper-direita).
As poucas músicas que conheço dele (poucas, porque a maior parte delas entrou-me por um ouvido e saiu-me por outro) – de onde sobressai o incontornável “My way” - parecem-me um produto bem acabado de “showbiz” à americana.
É sem dúvida um produto bem acabado, mas no seu conteúdo tem menos autenticidade que as modinhas meio foleiras que os/as cantores/as pimbas debitam nas festas populares de meios provincianos.
O leitor ou a leitora têm dúvidas sobre tal afirmação ?
Então peguem no “My way”, traduzam aquilo e vejam qual é o resultado líquido daquele discurso.
Aquilo que lá se diz, descodificado é que “sou o maior porque faço o meu caminho à minha maneira”.
Ora meus caros leitores, todos nós fazemos o nosso caminho... à nossa maneira – se é por isso, somos todos, sem excepção, os maiores, tanto como o Frank Sinatra.
Musicalmente, o produto é menor, se comparado com aquilo que produziram outros norte-americanos contemporâneos de Sinatra, como Bob Dylan, Jimi Hendrix, Elvis Presley (este também bastante na linha do “showbiz”), Carlos Santana, Paul Simon e tantos outros como Crosby Stills Nash & Young.
Decididamente, a música de Sinatra não tem qualidade que se compare.
Foleiro por foleiro, prefiro a música pimba cá do burgo.
Aqui há tempos, estava eu a jantar alegremente num restaurante do Litoral alentejano, em S. Torpes, e começa a ouvir-se uma canção qualquer do Sinatra; não resisti: prevalecendo-me do facto de ser cliente e conhecido há muitos anos, chamei a empregada-chefe e perguntei-lhe se era possível tirar o Sinatra e... pôr música.
Ela respondeu-me com um sorriso de orelha a orelha - e pôs música !
Acho que também não simpatiza com ele.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Treetop Flyer

Há muitos anos que Stephen Stills é um dos meus heróis musicais.
Depois de ter militado nos fantásticos “Crosby, Stills & Nash”, mais tarde com Neil Young (também ele um ícone incontornável), Stephens Stills fez música de alta qualidade, de que destaco o duplo álbum “Manassas”.
Ultimamente deparei com uma nova canção dele, daquelas marcantes: o “treetop flyer”, tocado em afinação “Bensusan” (DADGAD), que é um espanto de equilíbrio e balanço.
Et voilá:



sábado, dezembro 06, 2008

Silent guitar


Ladies and gentlemen,

Isto é que é uma silent guitar: uma guitarra feita através de alta tecnologia.
A Yamaha esmerou-se: o som é excelente, o braço é muito bom, os carrilhões são de alta qualidade; quando o som é enviado para um bom amplificador o efeito é surpreendente; podemos ter a sensação de estar a tocar numa catedral como podemos ter a sensação mais roqueira possível, ou ainda a sensação de estar a tocar em estúdio, dependendo dos registos em que a vamos tocando.
À semelhança do que já tinha feito com outras violas, em colaboração com o senhor meu irmão, que é jeitoso de mãos e sabe trabalhar com ferramenta a sério, coloquei-lhe uma nova “pestana” em cima (costumam chamar-lhe “cavalete”, mas eu desde jovem que lhe chamo pestana, provavelmente por influência dalgum amigo tão ignorante como eu, e já me habituei).
Com a mudança da pestana as cordas ficaram muito próximas da escala, o que facilita a acção do guitarrista – como diz um amigo meu, as minhas violas são todas “quitadas”.
Uma viola destas é um desafio: quando se lhe pega, ela envia ao guitarrista aquela mensagem íntima dos bons instrumentos, tipo “vê lá se tocas alguma coisa de jeito porque o material é de primeira, não tens desculpa”.
É levíssima, não tem caixa, praticamente a viola é o braço, o resto é fibra a imitar a forma do corpo de uma viola de caixa.
Por enquanto limito-me a explorar as possibilidades da guitarra – mais tarde pensarei noutros vôos.

eXTReMe Tracker