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segunda-feira, junho 15, 2009

Abstenção – um pouco de respeito, se faz favor

Está-me a “incomodar a molécula” a forma desrespeitosa como a abstenção eleitoral tem vindo a ser encarada.
Alguns patetas alegres culpam os eleitores abstencionistas e cobrem-nos de processos de intenções, começando, naturalmente, pela violação dos deveres cívicos.
Vamos lá assentar uma ou duas ideias:
Em democracia o eleitor tem sempre razão.
Se o eleitor não quer votar, a “culpa” é do sistema político que não lhe diz nada ou lhe diz muito pouco – é, em última análise, da classe política que não soube criar um sistema apelativo ou que deixou o sistema abastardar-se de tal forma que uma grossa fatia dos eleitores nem lhe dá confiança sequer para ir votar branco.
Quando um governo deixa uma série de portugueses na penúria (agricultores, por exemplo), alegando que não há dinheiro, mas depois rapidamente desencanta uns milhares de milhões de euros para salvar um Banco da bancarrota, está tudo dito sobre as prioridades dessa gente.
Quando um partido se candidata a eleições legislativas prometendo um referendo sobre a Europa mas depois olimpicamente defende que não deve haver referendo porque os eleitores não percebem os tratados internacionais, está tudo explicado sobre a seriedade e honorabilidade desses tipos.
Quando um parlamento composto por mais de 300 deputados aprova uma lei iníqua de financiamento partidário com 1 abstenção e 1 voto contra, começa a compreender-se o que é que os faz correr – e não são seguramente preocupações com as pessoas.
Portanto, das duas uma: ou a classe política assume mais honestidade e seriedade na política, ou a abstenção há-de chegar aos 90%.
Ou a comunicação social deixa de confundir informação com propaganda ou as pessoas deixam de ler jornais – continuam a ver telejornais em jeito de quem vê filmes de terror, mas estão-se nas tintas para a informação que já sabem que está viciada à partida.
As pessoas interessam-se pelas coisas que para elas têm um significado – se a política se torna num jogo de manobras, numa série de golpes publicitários, torna-se igual a um sabonete ou a um desodorizante mais ou menos publicitado – vale zero.
Procurem aí as causas da abstenção.
E façam o favor de respeitar os abstencionistas – podem começar por actualizar os cadernos eleitorais, para acabar com a abstenção fantasma.

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