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segunda-feira, junho 22, 2009

Estatísticas e falta de vergonha

Hoje fomos bombardeados pelas TVs muito felizes por um departamento qualquer europeu ter concluído que a sinistralidade automóvel desceu substancialmente em Portugal.
É um sucesso estatístico, nada mais.
De facto, nessa estatística entram aleatoriamente os mortos que acabam por falecer no hospital, ou melhor, muitos não chegam a entrar.
Explico:
Segundo o Instituto de Medicina Legal, o número de vítimas mortais da estrada é 40% superior às estatísticas apresentadas pelo governo. O não reconhecimento público deste morticínio só aproveita ao MAI, que assim não tem de se maçar a resolvê-lo. Os custos, esses, são pagos pelas famílias das vítimas e por todos nós, contribuintes e concidadãos.
O Governo prometeu que iria passar a contabilizar as vítimas mortais em 2010. Esperemos que sim. Entretanto, não devemos esquecer o seguinte:
Em 2001, o governo português, em vez de começar a fazer nessa altura o registo das vítimas a trinta dias, optou por alterar a forma de cálculo da taxa de agravamento para efeitos de comparação pelo Eurostat, reduzindo, através desta manobra de secretaria, o número calculado destas vítimas para metade (de 1.30 para 1.14). Mas a melhoria do socorro às vítimas da estrada tem levado a que a estabilização dos feridos muito graves prolongue os seus sinais vitais para além da chegada ao hospital, fazendo que o número de vítimas a trinta dias tenha aumentado em vez de diminuir:
- segundo o Instituto de Medicina Legal, estas representam 1.40 a nível nacional;
- segundo a Brigada de Investigação Criminal da PSP, estas representam 1.70 em Lisboa (compreende-se: o socorro é, claro, mais eficiente na capital do que em muitas zonas do país).
Prova, afinal, que não é boa ideia brincar à magia com os números da sinistralidade rodoviária.
Vide texto completo no site da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados.

E esta ?
Depois de uma estória muito mal contada sobre o desaparecimento de uns milhares de desempregados nas estatísticas, agora assistimos ao desaparecimento estatístico dos mortos em acidentes de viação.
Continuamos sem saber exactamente quantas pessoas morreram em acidentes de automóvel, pois até com os mortos a central de propaganda governamental funciona.
Isto tem um nome: chama-se desonestidade.

1 comentário:

Maria disse...

Depois da contabilidade "criativa", temos as estatísticas "criativas". E o busílis é que não é só nas estatísticas da sinistralidade rodoviária, a "criatividade" vai muito mais além...

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