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segunda-feira, abril 23, 2007

Guitarra, evolução, obsessão e convalescença



Quando se diz que para tocar viola razoavelmente é preciso muito trabalho – mas muito trabalho mesmo ! – não se está a cometer uma ponta de exagero.
São horas e horas e horas a dedilhar, horas e horas e horas de alguma prática que tenha a ver com teoria musical, horas e horas e horas de estudo de cada peça musical.

Nunca estudei organizadamente nada de viola, de guitarra ou de música em geral, de onde resulta que a carga de conhecimentos que adquiri é toda empírica.

Quando o meu sobrinho, jovem que estuda guitarra e música a sério, me fala da “terceira dominante”, maior ou menor, fico a olhar para ele que nem boi para palácio.

Entretanto, volta e meia fico maravilhado quando descubro o que é um Dó de 6ª e descubro que já utilizo o dito Dó de 6ª há vinte anos sem sequer saber que aquilo era um Dó, quanto mais de 6ª !
Bom, mas o tema do post não é bem sobre isto.

É sobre a obsessão.

Volta e meia, nas minhas deambulações musicais, dou com uma melodia que me encanta especialmente e começo a estudá-la intensivamente; isso implica tocá-la de frente para trás e de trás para frente umas 500 mil vezes, com as mais desvairadas e loucas variantes, algumas das quais passam a fazer parte da música, quando me agradam especialmente.

De onde resulta que a família e os amigos é que pagam, coitados, antes de eu tocar a melodia do princípio ao fim já eles a ouviram uns bons milhares de vezes.
Há uns anos largos a banda The Who saiu-se com aquele monumento musical que foi a ópera-rock Tommy.

Adorei o Tommy e meti na cabeça que o havia de tocar – bom, o resultado foi tal que ainda hoje o meu irmão mais novo empalidece quando eu toco os primeiros acordes do dito...

Toquei, retoquei, tritoquei, tetratoquei dezenas de vezes as principais canções do Tommy, horas e horas seguidas, de tal maneira que os meus pais, os meus irmãos, os meus amigos e até a minha namorada de então passaram a odiar visceralmente o disco, tal foi a “overdose” !

Algo de semelhante se anda agora a passar, mas a “dose” é substancialmente diferente, pois actualmente a vítima das minhas atenções é o Prelúdio em Lá menor, do Badenpowell, que é uma peça musical que tem uns 10 minutos de duração.

Hoje, porém, peguei na viola, estive a tocar um bocado e depois parei, com a sensação de que algo de estranho se estava a passar.
E estava !

Estive uma meia hora a tocar viola e não toquei nenhuma parte do Prelúdio, o que significa que abrandou a obsessão – estou em convalescença, portanto...

2 comentários:

Neves de ontem disse...

Já podia deixar no blog uma gravação pessoal de viola para os leitores/personagens dizermos a nossa opinião do Cem anos músico.
:)

100anos disse...

Ainda não posso, Neves, ainda não posso.
O Prelúdio está quase, mas eu sei por experiência própria que esse "quase" pode levar meses.
Já toco aí uns 2/3 do dito, mas por enquanto só é possível apresentá-lo com alguma decência ao vivo - gravado ainda se notam muitas imperfeições e eu, não sendo um perfeccionista, gosto de apresentar a minha música com a qualidade que está ao meu alcance.
Se as coisas correrem como eu espero, lá para o Verão já o poderei gravar em estúdio.
Até lá, terei de continuar a seguir a fórmula de Edison, que dizia que uma obra conseguida depende de 10% de inspiração e de 90% de transpiração.

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