Autismo político
Certos rituais colectivos são em si mesmos portadores de notícias, muitas vezes não necessariamente aquelas que os seus protagonistas pretenderiam.
Estou-me a lembrar, por exemplo, de que pouco antes do 25 de Abril os principais chefes militares prestaram a Marcello Caetano uma espécie de juramento de fidelidade, pretendendo dar com isso a ideia de que o regime estava mais sólido do que nunca (generais e almirantes que mais tarde se viram apelidados de “brigada do reumático” pelos mais jovens militares que fizeram o 25 de Abril uns meses depois).
A cerimónia, que pretendia ser uma manifestação de vitalidade e fidelidade das forças armadas acabou por ser historicamente (hoje ninguém o contesta, penso eu) o prenúncio de que a situação então já existente era a oposta – nesse mesmo período já o MFA ultimava os preparativos do golpe que derrubou a ditadura, e esta já tinha os dias contados.
A cerimónia de unanimismo e aclamação do querido líder proporcionada pelo congresso do PS deste fim de semana revela que quase não existiu debate, o sistema de escolha dos delegados ao congresso era indiferente – porque o essencial estava escolhido e assumido antes do mesmo congresso – as ideias força foram de uma pobreza franciscana e praticamente limitaram-se à retórica de ser indispensável uma nova maioria absoluta do PS para proporcionar a esse estadista extraordinário que é Sócrates a oportunidade de liderar o país nesta época de crise que vivemos.
É pouco, é mesmo muito pouco.
Parece que os corifeus do PS já concluíram que o debate de ideias é supérfluo, o que interessa é convencer o eleitorado a votar neles.
Isso é seguramente um mau sinal para o PS: significa que os seus dirigentes já estão completamente fora da realidade e parecem convictos de que o eleitorado se convence com duas cantigas – a cantiga da crise e a cantiga da maioria absoluta e da governabilidade.
O autismo induzido pelo prolongado exercício do poder fá-los dar como adquirido aquilo que ainda está em disputa, e isso é um primeiro e poderoso passo para virem a ter uma enorme e desagradável surpresa nas noites das eleições que aí vêm.
A ausência de alternativas apresentada como uma prova da inevitabilidade do governo do PS é uma falácia: não só a líder do PSD Manuela Ferreira Leite é um “osso” muito mais duro de roer do que a pintam os “spin doctors” socialistas, como a emergência de um líder ganhador na área do centro direita (porventura até com o apoio da actual dirigente) é uma hipótese que parece estar a ser descartada com demasiada facilidade.
Estou-me a lembrar, por exemplo, de que pouco antes do 25 de Abril os principais chefes militares prestaram a Marcello Caetano uma espécie de juramento de fidelidade, pretendendo dar com isso a ideia de que o regime estava mais sólido do que nunca (generais e almirantes que mais tarde se viram apelidados de “brigada do reumático” pelos mais jovens militares que fizeram o 25 de Abril uns meses depois).
A cerimónia, que pretendia ser uma manifestação de vitalidade e fidelidade das forças armadas acabou por ser historicamente (hoje ninguém o contesta, penso eu) o prenúncio de que a situação então já existente era a oposta – nesse mesmo período já o MFA ultimava os preparativos do golpe que derrubou a ditadura, e esta já tinha os dias contados.
A cerimónia de unanimismo e aclamação do querido líder proporcionada pelo congresso do PS deste fim de semana revela que quase não existiu debate, o sistema de escolha dos delegados ao congresso era indiferente – porque o essencial estava escolhido e assumido antes do mesmo congresso – as ideias força foram de uma pobreza franciscana e praticamente limitaram-se à retórica de ser indispensável uma nova maioria absoluta do PS para proporcionar a esse estadista extraordinário que é Sócrates a oportunidade de liderar o país nesta época de crise que vivemos.
É pouco, é mesmo muito pouco.
Parece que os corifeus do PS já concluíram que o debate de ideias é supérfluo, o que interessa é convencer o eleitorado a votar neles.
Isso é seguramente um mau sinal para o PS: significa que os seus dirigentes já estão completamente fora da realidade e parecem convictos de que o eleitorado se convence com duas cantigas – a cantiga da crise e a cantiga da maioria absoluta e da governabilidade.
O autismo induzido pelo prolongado exercício do poder fá-los dar como adquirido aquilo que ainda está em disputa, e isso é um primeiro e poderoso passo para virem a ter uma enorme e desagradável surpresa nas noites das eleições que aí vêm.
A ausência de alternativas apresentada como uma prova da inevitabilidade do governo do PS é uma falácia: não só a líder do PSD Manuela Ferreira Leite é um “osso” muito mais duro de roer do que a pintam os “spin doctors” socialistas, como a emergência de um líder ganhador na área do centro direita (porventura até com o apoio da actual dirigente) é uma hipótese que parece estar a ser descartada com demasiada facilidade.
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