Contos Estelares - XIV
“Ó Cem, com coisas sérias não se brinca”, repreendeu Augusta, ainda rindo com as caretas que Cem fazia a tentar explicar-se. “Augusta Nina juro que por uma vez estou a falar a sério – há um tipo chamado Manolo que me pergunta em Morse quem somos; diz que está no 4º planeta rodando em cima de um sol que nós conhecemos por XV8 e parece que é tão humano como nós”, protestou Cem, que quando se concentrava com grande intensidade não conseguia deixar de fazer caretas. Augusta não teve tempo de responder: dessa vez era mesmo o alarme geral da nave a soar estridentemente, anunciando que o computador tinha encontrado algo que parecia um planeta habitável. Neves, Cleópatra e Funes apareceram de repente na sala de comando e imediatamente se inteiraram dos últimos acontecimentos. Cem enfiou os dados no computador que quase de seguida cuspiu uma folha impressa com os dizeres “Sol XV8, 4º planeta, todas as condições para sobrevivência humana; sinal electrónico recebido em código binário, muito complexo – prossegue operação de descodificação”. Cleo teclou indagando do computador para quando se previa a a descodificação do sinal electrónico e o computador respondeu “entre 1 semana a 15 dias”. Nos 10 dias seguintes todos esperaram civilizadamente, sem exteriorizarem a excitação que os ia possuindo; os meses passados na nave tinham criado entre todos um laço especial que envolvia delicadeza, afecto, entre-ajuda, confiança e –pasme-se ! – igualdade. Até Cleópatra, a mulher mais radical, tinha acabado por reconhecer que naquelas condições os homens podiam ser tão importantes como as mulheres; tinha tido uma discussão com Cem sobre o Dia do Pai e ficou algo surpreendida quando compreendeu que afinal Cem pensava o mesmo que ela; mas foi preciso engolir algum orgulho para aceitar que um simples homem pudesse pensar com o mesmo acerto que ela. “Manolo ?”, dizia Neves, “mas isso lembra-me qualquer coisa...” e não explicava o quê, apesar da curiosidade dos outros. Até que, ao 10º dia o computador despejou o sinal descodificado: “Sou Manolo, astrónomo e cientista estagiário, estou a contactar-vos à revelia dos meus chefes, sei que vocês estão a dirigir-se para cá numa nave espacial de extraordinária potência, a uma velocidade próxima de 20 vezes a velocidade da luz e pelos vossos sinais parecem-me humanos ou pelo menos humanóides; cuidado com o 10 planeta do nosso sistema, está armadilhado contra os Cylons, nossos inimigos tradicionais, andróides hostis e tecnologicamente muito avançados; o planeta emite um feixe tractor convidando as naves a poisar – esse feixe tractor é uma armadilha; pelas minhas contas, se vocês mantiverem a velocidade a que estão, entrarão no nosso sistema dentro de uns 7 meses; não tentem contactar comigo por agora; mas estejam descansados, pois muito antes de estarem bem próximos serão oficialmente contactados pelos mais altos responsáveis do planeta”. “Ai, Manolo, que saudades”, suspirou Neves misteriosamente. (continua)
1 comentário:
"Ai,Manolo que saudades"...
É um antigo namorado meu?
É como o George Cloonney?
O talvez iguazinho a Richard Gere de há dez anos?
Asemelha-se ao John Malkovich?
No conto não queria namorados pouco atraentes.
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