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domingo, março 04, 2007

Contos estelares - VII

"A máquina enlouqueceu", exclamaram mais uma vez as três, incrédulas.
No visor do computador apareceu outra mensagem:

“Como mulheres (...) que são, as senhoras julgam que o computador enlouqueceu, naturalmente.

Fui programado para aceitar contingências dessa natureza.

Há uma alternativa à nomeação de um homem-chefe: acordarem os dois adormecidos qualificados (Funes e Cem) e aceitarem-nos como vossos pares em todos os debates e discussões que se vão seguir”.

“Bom, continuo a pensar que a máquina está com algum problema, mas esta alternativa já me parece mais razoável”, disse Cleópatra.

As outras duas ex-Belas Adormecidas concordaram.

Resolveram pois acordar os dois adormecidos, o que fizeram acto contínuo.

“Que fome !”, exclamou Cem espreguiçando-se “bolas, foram-me acordar quando eu estava a sonhar com iguarias gastronómicas inexprimíveis”.

“Também tenho fome” declarou sucintamente Funes.

“Bom, mas é necessário discutirmos”, obtemperou Neves.

“Desculpem lá, minhas Senhoras, mas eu sou incapaz de discutir o que quer que seja, de barriga vazia e com esta fome ! Posso oferecer-vos uma feijoada com todos, feita à transmontana, que poderei confeccionar aqui e enviar-vos pelo transpositor de matéria”.

“Também tenho fome” repetiu igualmente sucintamente Funes.

“Funes, V. está a ficar um bocadito monocórdico”, chasqueou Cleópatra, “mas o melhor é não perdermos mais tempo e conciliar tudo – Cem, em quanto tempo consegue fazer a feijoada ?”

“Em uma hora posso ter tudo pronto”.

Os outros concordaram em esperar pela dita.

Uma hora depois começaram as chegar as feijoadinhas quentinhas às várias naves, acompanhadas por um arroz branco malandrinho e torresmos transmontanos para servir à parte; em anexo, chegaram também umas garrafinhas de vinho tinto “Dão Meia Encosta”, para “acompanhar à missa” e um piri-piri especial made in Cem.

Todos comeram e beberam excelentemente, tendo mesmo Augusta declarado que há muito não comia uma feijoada tão bem apurada, e – pasme-se ! – com a concordância de todas as outras mulheres.

“Cem, como é que V. faz isto ?”, perguntou Funes entusiasmado.

“Oh, oh, meu amigo, são alguns anos de escravidão na cozinha de algumas mulheres que conheci na velha Terra – cheguei à conclusão de que a única forma de elas me darem alguma liberdade era alcançar-lhes as barriguinhas, desenvolvi esta técnica de feijoada e nunca mais tive problemas – se as estimar bem, com bons cozinhados, elas dão-me uma margem de liberdade de movimentos que nunca conseguiria ter como simples técnico qualificado, mesmo da classe A”.

“Já todos comeram ?”, indagou Cem.

Já todos tinham comido e bebido.

Os cinco iniciaram então uma reunião em videoconferência, debatendo as hipóteses em cima da mesa.

Cem declarou pouco depois que achava a 1ª hipótese a mais susceptível de sucesso, desde que combinada, na medida do possível com a proposta de Augusta.

Funes declarou que concordava, desde que as naves interligadas tivessem sistemas de privacidade que inviabilizassem qualquer intromissão na vida privada de cada um.

Neves e Augusta concordaram com as sugestões e Cleópatra sempre estivera de acordo com a solução gizada.

Havia muito a fazer.

(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

O substantivo "mulheres" não pode ficar junto ao adjetivo "típicas". É agramatical na língua de Camões. O senhor Cem anos tem de mudar a expressão " como mulheres típicas que são..."

Ni disse...

Concordo com o roubou... ops... 'robot', digo robô... (a Língua Portuguesa é uma maravilha!)... aliás, caro Cem, o que é uma 'mulher típica'? Cada mulher é una e individual, não há cá esteriotipos! Na melhor das hipóteses... uma mulher é típica por ser atípica... (xi, não saímos daqui!).

..

Fiquei com águinha na boca quando li 'feijoada' e ainda mais face a esta expressão: « um piri-piri especial made in Cem.».
Tenho uma apetência natural por comidas com picante! (Chili... por exemplo... pita Shoarma - que faço em casa, tb c um pouco de feijão no recheio, e com picante à fartura -). Aliás, todos se questionam, ao ver-me colocar picante no meu prato, como é q eu consigo comer e com ar tão maravilhado... mas é que gosto mesmo!

Temos que trocar receitas... hehehe...

(E agora? Apetece-me feijoada!


:)

...

Quanto ao texto da história... está excelente! Ainda sai livro daqui!

Ni* (a pensar em feijoada)

100anos disse...

Puxa, que leitores mais "comichosos" !
OK, vou refazer a frase...

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