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quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Contos Estelares - II

“Olhe, Cleópatra, vamos fazer um pacto: você não me faz ameaças infantis e eu não me rio de si, OK ? Então pensava que eu vinha para o espaço exterior sem ter um escudo anti-projécteis capaz de travar qualquer ataque ?”.
Fez-se finalmente silêncio.
João, Marta, Augusta, Cleópatra, Funes e Cem mantiveram o silêncio durante tanto tempo que ele começou a ficar pesado. Todos eles pensavam na vida e na forma de sobreviverem. Por sugestão de Marta, puseram todos os computadores de bordo de todas as naves em comunicação, de forma a alargar a base de conhecimento de todos.
De súbito, os computadores começaram a emitir um sinal de alerta – não era um alerta de perigo imediato, era apenas um alerta de avaria no porão da nave de 100anos.
“Cem, consegue ir ver o que se passa, enquanto nós esperamos ?” indagou Funes.
“Vou tentar”. 100anos saiu da cabine de comando e começou a descer a longa escadaria sem gravidade que levava ao porão; aí chegado, verificou que uma figura estava sentada numa banheira criogénica, coisa muito estranha, pois a banheira criogénica destinava-se a deixar em hibernação qualquer ser vivo que lá se colocasse até ser despertada lentamente através de um processo de aquecimento artificial muitíssimo sofisticado.
O que teria corrido mal ? A figura sentada viu 100anos e exclamou “já não era sem tempo, Cem, por este andar deixavas-me congelada até ao dia do juízo final” – Neves de Ontem, em todo o seu esplendor de jovem salerosa, sorria.
“Ó Neves, que grande susto ! Mas então como estás acordada ?”.
“Deves ter sido tu a accionar o processo”.
“Não fui”.
Xiiiii – desculpem, meus amigos, mas o meu computador já fez merda”, disse Funes, “já compreendi – foi o meu computador, que está programado para a des-criogenização automática, que quando entrou em contacto com o computador do Cem enviou o sinal automaticamente e accionou o despertar da Nieves – olá Nieves, Bela Adormecida, voltaste à vida !”.
“Olá Prof. Funes, buenos ojos o vejam – ó Cem, ajuda-me aqui a sair deste sarcófago gelado, senão nunca mais me despacho”.
100anos lá foi ajudar – assim que carregou no botão da normalização criogénica cessou o aviso de alerta que estava a enervar toda a gente.
“Bom”, disse 100anos, “acho que devo uma explicação a todos: quando saí da Terra trouxe comigo algumas pessoas amigas clandestinamente; uma delas foi a Nieves; disfarcei-a de “Vitória de Samotrácia”, meti-a num molde de mulher sem braços (claro !) e quando a Polícia Inter-Estelar me inspeccionou o porão, disse que era uma estatueta de adorno; os tipos deixaram passar, a ela e aos outros que – estranhamente – continuam criogenizados”.
“Não é nada de espantar”, disse Funes, “claro que já anulei a ordem automática do meu computador, a partir de agora não vai des-criogenizar ninguém”.
No problem, Funes, eu de qualquer maneira ia mesmo despertar a Nieves a curto prazo, pois estou a precisar de ajuda na manipulação dos comandos desta nave”.
(continua)

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