Angie
Estávamos em 1972. Eu estava na casa dos 20 anos, era universitário, usava o cabelo comprido, não fazia a barba e tinha fascínio pelos hippies. Um amigo desafiou-me a ir a Londres passar uma semana, disse-me que tinha uma casa “duns amigos” onde podia ficar, malta porreira. Lá fui.
Cheguei sozinho ao aeroporto de Gatwick, tomei o comboio para Victoria Station e dali o Metro para a Brompton Road; a casa onde eu ficaria situava-se nas proximidades. Quando lá cheguei, ultra cansado, fui bem recebido pela malta – todos eles (e elas) se pareciam vagamente comigo, éramos todos hippies – e pedi para tomar um banho. Levaram-me à cozinha !
Na dita cozinha havia uma espécie de uma arca, que se abria e quando a abriram verifiquei que dentro dela existia uma... banheira.
Subitamente, pela casa toda ressoa alto e bom som o “Angie” dos Stones, acabadinha de ser lançada.
Tomei um duche – fiquei longo tempo a sentir a água quente a inundar-me o corpo suado, a suavizar a secura dos poros; larguei um porradão de champô em cima da farta cabeleira e estive entretido a tirar o dito durante bastante tempo, de olhos fechados. Quando abri os olhos, uma loira com os seus 20 anos barrava calmamente um pão com manteiga e olhava-me apreciativa e ostensivamente, sorrindo abertamente quando baixava o olhar e focava as minhas “partes”. “Porra, que raio de filme é este ?” – foi o meu pensamento imediato (soube mais tarde que as regras da casa implicavam que nunca se podia fechar a porta da cozinha, pois as pessoas comiam a qualquer hora – quem queria tomar banho tomava à vontade, mas se tivesse que ser diante de toda a gente, estranhos incluídos, lá teria mesmo que ser). A loira sorriu mais uma vez, disse-me “Pas mal” e foi-se embora. Fiquei siderado, ainda um bocado zonzo por ter estado nuzinho em pêlo diante de uma beldade loura que – em Londres ! – se me dirigia em francês... Tive sorte: caí nas boas graças da diva – chamava-se Lydie e era uma trotskista francesa do Norte, vivia em Lille e volta e meia dava uma saltada a Londres para arejar ideias.
Claro que logo nessa noite dormi com ela (il faut faire la revolution, quand même) – aliás ela não me deu qualquer hipótese de fuga, pois quando a hora da deita se aproximou, olhou-me e declarou “je reste avec toi”. Passei uma semana absolutamente louca com ela – era uma sabidona, conhecia Londres melhor que os ingleses, frequentava o “Troubadour”, um barzinho com música ao vivo que rapidamente me deu a conhecer (onde toda a gente fumava “erva” da boa, com pedradas monumentais) e, last but not the least, atinava à brava comigo. Nunca mais a vi e sempre me ficou associada ao “Angie”.
Cada vez que oiço a canção lembro-me dela. Ah, Lydie, Lydie, quem serás tu hoje e onde estarás ?
A canção está aqui.
Na dita cozinha havia uma espécie de uma arca, que se abria e quando a abriram verifiquei que dentro dela existia uma... banheira.
Subitamente, pela casa toda ressoa alto e bom som o “Angie” dos Stones, acabadinha de ser lançada.
Tomei um duche – fiquei longo tempo a sentir a água quente a inundar-me o corpo suado, a suavizar a secura dos poros; larguei um porradão de champô em cima da farta cabeleira e estive entretido a tirar o dito durante bastante tempo, de olhos fechados. Quando abri os olhos, uma loira com os seus 20 anos barrava calmamente um pão com manteiga e olhava-me apreciativa e ostensivamente, sorrindo abertamente quando baixava o olhar e focava as minhas “partes”. “Porra, que raio de filme é este ?” – foi o meu pensamento imediato (soube mais tarde que as regras da casa implicavam que nunca se podia fechar a porta da cozinha, pois as pessoas comiam a qualquer hora – quem queria tomar banho tomava à vontade, mas se tivesse que ser diante de toda a gente, estranhos incluídos, lá teria mesmo que ser). A loira sorriu mais uma vez, disse-me “Pas mal” e foi-se embora. Fiquei siderado, ainda um bocado zonzo por ter estado nuzinho em pêlo diante de uma beldade loura que – em Londres ! – se me dirigia em francês... Tive sorte: caí nas boas graças da diva – chamava-se Lydie e era uma trotskista francesa do Norte, vivia em Lille e volta e meia dava uma saltada a Londres para arejar ideias.
Claro que logo nessa noite dormi com ela (il faut faire la revolution, quand même) – aliás ela não me deu qualquer hipótese de fuga, pois quando a hora da deita se aproximou, olhou-me e declarou “je reste avec toi”. Passei uma semana absolutamente louca com ela – era uma sabidona, conhecia Londres melhor que os ingleses, frequentava o “Troubadour”, um barzinho com música ao vivo que rapidamente me deu a conhecer (onde toda a gente fumava “erva” da boa, com pedradas monumentais) e, last but not the least, atinava à brava comigo. Nunca mais a vi e sempre me ficou associada ao “Angie”.
Cada vez que oiço a canção lembro-me dela. Ah, Lydie, Lydie, quem serás tu hoje e onde estarás ?
A canção está aqui.
9 comentários:
Ao respeitável público: se acharem que o tom do blog está a ficar "too personal", digam, por favor - é chatíssimo contar estas coisas a quem fica embaraçado por as ouvir.
Que livro é este?!
Bom dia!
A crise dos cen anos?
O avó está a contar batalhas da guerra dos Cen anos?
O seguinte qué vai ser?
:) :) :) :) :) :)
A Neves andou perto - sou uma espécie de avô a contar batalhas da Guerra dos Cem Anos.
A estória do passarinho assassinado é um capítulo anterior a este.
Na verdade, embora o tema geral deste blog sejam os livros, vou escrevendo aqui o que me apetece, sem um nexo entre os posts.
Conto aqui estórias que não posso contar ao meu filho por enquanto, para não dar “maus exemplos” – ainda por cima agora que o rapaz anda a passar o período do “Pai-Herói”, não se ensaiando nada em repetir as “proezas” paternas adaptadas ao séc. 21.
Mas eu esclareço: estava a ver/ouvir música no “YouTube” quando me saiu o “Angie” pela proa numa pesquisa que fiz sobre os Rolling Stones e lembrei-me do episódio da Lydie por causa da canção.
Foi isso que me levou a escrever o post; aliás a boa da Lydie nunca o verá, porque não fala português e porque de certeza já se esqueceu daquele rapaz magro e cabeludo com quem passou uma semana de “desbunda” há 30 anos.
Acho que vou criar um blog novo, com outro pseudónimo, para poder contar sem constrangimentos as estórias mais escabrosas de que me lembrar...
«Acho que vou criar um blog novo, com outro pseudónimo, para poder contar sem constrangimentos as estórias mais escabrosas de que me lembrar... »
...
As histórias só têm piada quando ouvidas ou lidas por alguém.... e quando sabemos que o faz por e com prazer. Gosto de histórias. Por isso... faz favor de convidar para a ianuguração desse blog! :)
Ni*
- É engraçado como eu sinto algo semelhante! O facto do meu blog ser visitado por alunos e pelos meus filhos, inibe-me. Há algo de fascinante na escrita onde o erotismo se solta.... e eu gosto desse tipo de escrita... mas censuro-me no momentUS... :( -
Essa auto-censura existe sim, Ni, com muita força.
No fundo nós reproduzimos certos valores que detestamos, mas que estão cá muitas vezes.
Nas estórias eróticas há um estereotipo do pensamento dominante: se são contadas por homens, eles estão-se a "gabar"; se são contadas por mulheres, elas estão-se a "oferecer" - no fundo é, com pequenas variantes, aquilo que os nossos pais e avós pensavam sobre um tornozelo mais exposto... varia a área corporal exposta, mas os conceitos não andam longe uns dos outros.
Está descansada, amiga, quando e se criar um blog só para estórias de intimidade(s), eu convido-te para a inauguração.
Boa tarde!
Eu também queria o nome do novo blog. Gosto das histórias, embora sejam um bocadinho eróticas. Era uma brincadeira o que disse acima. Pode continuar assim.
«Nas estórias eróticas há um estereotipo do pensamento dominante: se são contadas por homens, eles estão-se a "gabar"; se são contadas por mulheres, elas estão-se a "oferecer"»
...
É exactamente isto, infelizmente!
...
Ni
ler todo o blog, muito bom
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