A Catedral do Mar
Século XIV.
A cidade de Barcelona vive a sua época de maior prosperidade; cresceu em direcção a Ribera, o bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano jamais visto: Santa María de la Mar.
Paralelamente a esta construção desenrolam-se as atribulações de Arnau, um servo da gleba que foge dos abusos do senhor feudal e se refugia em Barcelona, como homem livre.
O jovem Arnau trabalha como palafreneiro, estivador, soldado e cambista. Uma vida extenuante, sempre amparada na Catedral do Mar, que o transporta da miséria á riqueza. A posição privilegiada que alcança desencadeia a inveja dos seus pares, que urdem uma sórdida conjura que o coloca nas mãos da Inquisição.
A Catedral do Mar é uma trama em que se entrecruzam lealdade e traição, amor e vingança, guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa e pela ambição. Tudo isto faz desta obra não só um romance absorvente, mas também a mais fascinante e ambiciosa recriação das luzes e sombras da época feudal (vd. contra-capa da edição portuguesa).
Ildefonso Falcones de Sierra é casado e pai de 4 filhos; nasceu em Barcelona em 1959, onde vive e onde exerce advocacia.
Para além de uma visão histórica que parece bastante rigorosa para quem, como eu, pouco perceba da História da Catalunha, Falcones retrata as relações humanas com um grande humanismo.
Bernat é um camponês inteligente que se emancipou e foi viver para a cidade, e o seu filho Arnau, de 8 anos.
Arnau brinca em Barcelona e faz um amiguinho, Joanet, um puto com menos 2 anos que ele.
O pequeno Joanet é filho de uma mulher adúltera, o seu pai biológico foi assassinado e o marido de sua mãe recusa-se a reconhecê-lo como filho (sua mãe está a ser lentamente assassinada pelo marido e e em breve estará morta).
Depois de algumas peripécias, Joanet, que inveja Arnau por ele ter um pai, chega à presença do pai do amigo, no meio de uma multidão; alguém diz que ele e Arnau são ambos filhos de Bernat e o puto olha, suplicante, para Bernat, com medo de ser rejeitado.
Bernat, um homem bom, olha-o nos olhos e pergunta-lhe: “queres ser meu filho ?"
E o miúdo, sem palavras, agarra-se à perna de Bernat e fica ali agarradinho sem dizer palavra, colando-se àquela perna com a força e o amor com que agarrava o mundo todo.
Nesse dia Bernat compreendeu e aceitou que tinha dois filhos.
A forma como Bernat aceita Joanet como seu segundo filho, com poucas palavras e muito sentimento, deixa qualquer um comovido.
A felicidade do trio dura pouco tempo; devido a guerras insensatas e a costumes bárbaros, os cidadãos de Barcelona são sujeitos a uma vaga de fome tremenda: há uma sublevação e Bernat, que era até então um tipo pacífico, “passa-se” de fúria com as arbitrariedades da nobreza e salta para a liderança do movimento; Barcelona fica a ferro e fogo durante algum tempo, até que os soldados do rei castelhano entram na cidade; Bernat, tal como os outros líderes, é enforcado sumariamente.
Arnau e Joanet só sabem do destino de Bernat já depois de ele estar morto.
Os dois irmãozitos caem angustiados e loucos de dor nos braços um do outro, mas a coragem não os larga: Arnau, um ano mais velho que Joanet, promete-lhe que o protegerá e que ambos se tornarão homens bons. E cumprirá a sua promessa.
Arnau consegue ser aceite como “bastaixo”, estivador, e ingressa na corporação dos estivadores ainda com 14 anos, habituando-se rapidamente a carregar pesos enormes às costas.
Uma das características destes estivadores era o seu orgulho na profissão e na sua cidade – deles parte a iniciativa de, nas horas vagas, carregaram enormes pedregulhos desde a pedreira até ao centro de Barcelona, onde está a ser construída a sua Igreja, uma Catedral imensa onde se sentem como em sua casa; a Catedral demorou 54 anos a ser construída.
Joanet é apoiado pelo padre da igreja do Mar e segue a carreira eclesiástica – irá longe, tornando-se um padre conhecido e considerado; tornar-se-á num importante membro da Inquisição e chegará a sua vez de mandar muita gente para a fogueira (não esqueçamos que Barcelona está quase no extremo da península, bastante próxima das zonas do Sul de França onde a chamada “heresia cátara” dá origem a um verdadeiro banho de sangue – muitos fogem para a Hispânia, onde mais tarde, em virtude da ascensão da Inquisição, começam a ser vistos com muita suspeita).
Ildefonso Falcones retrata com muito rigor histórico o ambiente tenso dos tempos das guerras religiosas e a forma como a nobreza e o clero tiraram partido dessas guerras para enriquecerem... sem trabalhar, naturalmente.
Descreve a Catalunha medieval e pré-renascentista com grande desenvolvimento – vê-se que consultou muitos arquivos e que estudou bastante antes de escrever.
A cidade de Barcelona vive a sua época de maior prosperidade; cresceu em direcção a Ribera, o bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano jamais visto: Santa María de la Mar.
Paralelamente a esta construção desenrolam-se as atribulações de Arnau, um servo da gleba que foge dos abusos do senhor feudal e se refugia em Barcelona, como homem livre.
O jovem Arnau trabalha como palafreneiro, estivador, soldado e cambista. Uma vida extenuante, sempre amparada na Catedral do Mar, que o transporta da miséria á riqueza. A posição privilegiada que alcança desencadeia a inveja dos seus pares, que urdem uma sórdida conjura que o coloca nas mãos da Inquisição.
A Catedral do Mar é uma trama em que se entrecruzam lealdade e traição, amor e vingança, guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa e pela ambição. Tudo isto faz desta obra não só um romance absorvente, mas também a mais fascinante e ambiciosa recriação das luzes e sombras da época feudal (vd. contra-capa da edição portuguesa).
Ildefonso Falcones de Sierra é casado e pai de 4 filhos; nasceu em Barcelona em 1959, onde vive e onde exerce advocacia.
Para além de uma visão histórica que parece bastante rigorosa para quem, como eu, pouco perceba da História da Catalunha, Falcones retrata as relações humanas com um grande humanismo.
Bernat é um camponês inteligente que se emancipou e foi viver para a cidade, e o seu filho Arnau, de 8 anos.
Arnau brinca em Barcelona e faz um amiguinho, Joanet, um puto com menos 2 anos que ele.
O pequeno Joanet é filho de uma mulher adúltera, o seu pai biológico foi assassinado e o marido de sua mãe recusa-se a reconhecê-lo como filho (sua mãe está a ser lentamente assassinada pelo marido e e em breve estará morta).
Depois de algumas peripécias, Joanet, que inveja Arnau por ele ter um pai, chega à presença do pai do amigo, no meio de uma multidão; alguém diz que ele e Arnau são ambos filhos de Bernat e o puto olha, suplicante, para Bernat, com medo de ser rejeitado.
Bernat, um homem bom, olha-o nos olhos e pergunta-lhe: “queres ser meu filho ?"
E o miúdo, sem palavras, agarra-se à perna de Bernat e fica ali agarradinho sem dizer palavra, colando-se àquela perna com a força e o amor com que agarrava o mundo todo.
Nesse dia Bernat compreendeu e aceitou que tinha dois filhos.
A forma como Bernat aceita Joanet como seu segundo filho, com poucas palavras e muito sentimento, deixa qualquer um comovido.
A felicidade do trio dura pouco tempo; devido a guerras insensatas e a costumes bárbaros, os cidadãos de Barcelona são sujeitos a uma vaga de fome tremenda: há uma sublevação e Bernat, que era até então um tipo pacífico, “passa-se” de fúria com as arbitrariedades da nobreza e salta para a liderança do movimento; Barcelona fica a ferro e fogo durante algum tempo, até que os soldados do rei castelhano entram na cidade; Bernat, tal como os outros líderes, é enforcado sumariamente.
Arnau e Joanet só sabem do destino de Bernat já depois de ele estar morto.
Os dois irmãozitos caem angustiados e loucos de dor nos braços um do outro, mas a coragem não os larga: Arnau, um ano mais velho que Joanet, promete-lhe que o protegerá e que ambos se tornarão homens bons. E cumprirá a sua promessa.
Arnau consegue ser aceite como “bastaixo”, estivador, e ingressa na corporação dos estivadores ainda com 14 anos, habituando-se rapidamente a carregar pesos enormes às costas.
Uma das características destes estivadores era o seu orgulho na profissão e na sua cidade – deles parte a iniciativa de, nas horas vagas, carregaram enormes pedregulhos desde a pedreira até ao centro de Barcelona, onde está a ser construída a sua Igreja, uma Catedral imensa onde se sentem como em sua casa; a Catedral demorou 54 anos a ser construída.
Joanet é apoiado pelo padre da igreja do Mar e segue a carreira eclesiástica – irá longe, tornando-se um padre conhecido e considerado; tornar-se-á num importante membro da Inquisição e chegará a sua vez de mandar muita gente para a fogueira (não esqueçamos que Barcelona está quase no extremo da península, bastante próxima das zonas do Sul de França onde a chamada “heresia cátara” dá origem a um verdadeiro banho de sangue – muitos fogem para a Hispânia, onde mais tarde, em virtude da ascensão da Inquisição, começam a ser vistos com muita suspeita).
Ildefonso Falcones retrata com muito rigor histórico o ambiente tenso dos tempos das guerras religiosas e a forma como a nobreza e o clero tiraram partido dessas guerras para enriquecerem... sem trabalhar, naturalmente.
Descreve a Catalunha medieval e pré-renascentista com grande desenvolvimento – vê-se que consultou muitos arquivos e que estudou bastante antes de escrever.
A sua narrativa é de tal forma cativante que finalmente vou fazer a viagem a Barcelona que há muitos anos estava em projecto sem nunca se concretizar.
4 comentários:
Pelo descrito parece-me mais uma obra a ler... antes de ir a Barcelona. :)
O ambiente cruza-se com o de muitas outras obras imperdíveis sobre a época medieval... e as suas trevas, à sombra do Catolicismo.
Excelente post!
Agradeço a partilha!
Ni*
Bom dia!
Ainda não li esse livro, mas após a escrita de 100 anos, tenho vontade de lê-lo. Se quiserem ler mais livros interessantes com a cidade de Barcelona de fundo podem ler ao escritor Juan Marsé. O seu romance "Últimas tardes com a Teresa" é fantástico. Foi escrito há tempo, mas vale a pena. Também Eduardo Mendoza é outro escritor muito interessante. O livro "A verdade do Caso Savolta" é impressionante. Não posso dizer se eles foram traduzidos para o português. Até à próxima.
Belo.
Vou tentar.
Das poucas vezes em que li algo em castelhano, gostei - por aqui há quem diga que o castelhano é o português "com salero".
O que é facto é que consigo lê-lo, o que - paradoxalmente - não acontece com as duas outras línguas estrangeiras (francês e inglês) que falo - o francês só consigo ler em livros de ensaio e o inglês nem isso.
O castelhano tem um ritmo e uma melodia interna que o torna bastante simpático.
Gracias, Nieves.
tou a ler esse livro e e espetacular.... aconce lho vivemente...
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